Às vezes na vida tudo o que se precisa são alguns segundos de coragem, para tomar uma atitude, para falar ou fazer algo que gostaria muito, para romper com uma situação que te entristece, para ser mais feliz.
A ideia é que você não precisa ser destemido o tempo todo, bastam aqueles 20 segundos de coragem na hora H. O conceito não é meu. É algo que vi num filme, mas que tenho repetido muito nos últimos dias.
Um tipo de desejo insano, uma bravura destemida onde já não cabe mais o medo do fracasso, da situação econômica, da opinião alheia… Você sente aquela força interna que diz que a hora é agora e que tudo vai dar certo. E você faz o que tem que fazer.
ilustração de Fernanda Fonseca
maiscanela.wordpress.com
E você não faz ideia do quanto superei para chegar aos meus 20 segundos de coragem, tenho crença errônea enraizada pra chuchu.
Grande parte dos meus amigos fala de sonhos de mudança de vida, de atitude. Sonhos simples e grandiosos. Alguns ainda no plano da pura divagação, outros com ideias bem concretas de onde e como.
São histórias maravilhosas que nem começaram, mas que já estão contaminadas pelo medo.
Fico pensando o que seria se não existisse o medo. Não o nosso medo saudável, aquele da autopreservação que serve de alerta, mas aquele que aprendemos com nossos avós, pais, irmãos, professores, amigos, sociedade, com nosso preconceito contra nós mesmos…
Dizem que só devemos olhar para frente, mas eu resolvi resgatar todo dia um pouco daquela menina sem medo que fui na infância. Aquela anterior à vivência do medo como fato concreto, no tempo em que para ela medo – e dor; não tinham nenhum valor prático.
ilustração de Fernanda Fonseca
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Um dia alguém me falou que para eu descobrir o que realmente gostava de fazer deveria lembrar-me do que eu mais gostava quando era criança. Naquele momento, eu estava sempre buscando por um plano B, por um novo caminho profissional e já tinha feito curso de tudo: de encadernação a cultivo de cogumelo.
Já começava a me conformar com a ideia de permanecer alguém eternamente insatisfeito, que gostava de muitas coisas, mas que não se focava em nada, com a sensação de impotência diante do buraco cada vez maior que ia se abrindo na minha confiança. Então, a coisa da criança ficou martelando na minha cabeça.
Embarquei, e deu certo.
ilustração de Fernanda Fonseca
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Comecei a lembrar do meu eu de 5, 6, 7, 8 anos. Fui fazendo uma leitura de mim mesma do começo até agora. Dei conta da linha invisível que vai costurando fatos aparentemente desconexos.
Eu costumava dizer que tinha feito a faculdade errada, por exemplo. Que se pudesse voltar atrás jamais cursaria Administração, que faria algo mais “artístico”.
Acontece que eu não sou uma pessoa artística, eu sou uma pessoa que gosta de Artes que gostaria de ser artística.
Hoje agradeço pela escolha instintiva que eu fiz. A faculdade foi a certa, não para a pessoa que eu gostaria de ser, mas para a pessoa que eu realmente sou.
Eu torcia o nariz quando o professor Zenarte dizia que o sonho dele era nos ver todos empreendedores no futuro. Desculpa prof. Zenarte! Eu cheguei a dormir nas suas aulas (vergonha!), mas reverencio hoje o fato de que você tinha razão em tudo o que dizia. Eu torcia o nariz porque queria, mas tinha medo de não conseguir.
ilustração de Fernanda Fonseca
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Instintivamente, busquei – ou fui levada; para coisas e pessoas que me ajudaram a voltar para o meu lugar. Dei uma volta imensa para conseguir enxergar quem eu sou de verdade com tudo de bom e de ruim que isso significa, mas que me ajuda a traçar a pessoa melhorada que eu quero ser. Viver é complexo e requer treino – um treino que não para nunca.
Os meus 20 segundos de coragem chegaram no ponto de junção entre a menina destemida e a mulher em progresso que ainda morre de medo do novo, mas que tem ainda mais medo de parar no antigo que não traz mais felicidade.
“Às vezes tudo que precisamos é de 20 segundos de uma coragem insana. Literalmente 20 segundos de bravura destemida. E eu lhe prometo, algo maravilhoso virá disso”.
(We bought a zoo – nós compramos um zoológico)